domingo, 11 de janeiro de 2015

Em processo de abate

Creio que ter escolhido trocar o anticoncepcional oral pelo DIU, como forma de diminuir ou eliminar as minhas terríveis crises de enxaqueca mensais foi um erro.

Eu venho me perguntando dia após dia, por que é que eu perdi o controle físico e emocional?

Estar longe da família, de minha antiga rotina, em um mundo desconhecido e com temperaturas baixas, obviamente sacode com todos os sentimentos e pensamentos que me norteiam.

Eu costumava ter uma vida saudável e social consideravelmente boa. Alimentava-me de maneira nutritiva, praticava atividade física ao menos cinco vezes na semana e tinha uma vida social equilibrada.

Aqui na Irlanda, logo que cheguei, buscava por alimentos saudáveis, procurava sempre estar entrosada com algum grupo de pessoas, gostava de passear e conhecer tudo e todos ao redor.

Busquei uma academia (com aparelhos de musculação, aulas aeróbicas e piscina) para adaptar algumas das minhas atividades físicas preferidas conforme meu novo cotidiano.

Um belo dia, suada e feliz com uma barra de agachamento livre nos ombros, senti uma dor aguda e superficial na pele em minhas costas. Era uma espinha, gigantesca por sinal.
De repente outro dia eu acordo pela manhã, vou ao banheiro, me olho no espelho, havia um vulcão em meu queixo, e outro em minha bochecha.

Claro que eu sempre tive espinhas durante minha vida, mas era uma por mês, em somente um lugar do rosto, e quem em cinco dias no máximo já não existia mais. E nas costas eu nunca as tive.
E essas foram somente a largada das infinitas espinhas que surgiriam pelo meu rosto e principalmente costas.

Quem tem ou já teve essas “malditas” nas costas sabe o quanto elas são dolorosas e incomodam. Dormir a noite de costas no colchão, começou a ser um sofrimento. O elástico do top ou sutiã era um tormento. Colocar a barra de agachamento nas costas já não era motivante.

Quanto as do rosto, ardem e machucam tanto quanto as das costas, para piorar são visíveis a todos. E quanto mais secativo ou pomada para ameniza-las ou base e pó para cobri-las, pior, irritadas e mais visíveis ficam.

E foi ai que meu processo de isolamento e alimentação compulsiva se iniciam.

Cada vez eu tinha mais vergonha de sair e conhecer novas pessoas. Nem na academia eu queria mais ser vista. Com isso, passando mais tempo em casa e com o nível de serotonina lá em baixo, comecei a descontar minha ansiedade na comida.

Em pouco tempo, comendo o dobro que eu costumava a comer, escolhendo alimentos ricos em açúcar ou gordura e com poucos nutrientes, e sem praticar atividade física como de costume, eu iniciei o meu processo de engorda.

Hoje, eu tenho roupas novas! A mala que eu trouxe do Brasil já voltou para lá com todas as roupas que eu havia trazido, pois não me servem mais.

Eu sei que a culpa por ter engordado na verdade foi minha e não do DIU. Eu fui fraca, não foquei em achar um ponto de equilíbrio emocional, e não consegui encontrar algo ou alguém que pudesse me motivar, pois eu sozinha não foi razão suficiente para isso.

Eu tentei tomar um antidepressivo que eu trouxe na bagagem. Mas para mim foi como um placebo, talvez minha mente não tenha acreditado em seus efeitos, só nos negativos, pois ele me deixava com a pele tão seca que eu não podia mais sorrir que meus lábios sangravam. Mesmo bebendo quatro litros de água por dia.

O que fez dar uma melhorada em minha pele do rosto foi o processo de limpeza e hidratação com algum dos melhores produtos europeus para pele e tomar um comprimido diurético que tem a função de baixar o nível do hormônio testosterona que meu corpo passou a produzir em excesso sem o anticoncepcional.

Bem, hoje eu tenho a pele do rosto e principalmente das costas manchadas, preciso usar um medicamento todos os dias, sabe-se lá o mal que ele vai causar em longo prazo ao meu organismo, engordei mais de dez quilos, provavelmente meus níveis de colesterol e triglicérides estejam nas alturas, e quanto as minhas terríveis crises de enxaquecas, meus pais ainda me mandam caixas do meu santo remédio. Eu não as tenho com tanta frequência e nem com tanta intensidade, mas elas sobreviveram ao DIU.

E a minha TPM que já foi mensal, cheia de mau-humor, desejo por doce, espinha, retenção de liquido e isolamento social de no máximo dois dias se tornou praticamente diária. Com exceção da menstruação. Essa já não me visita a mais de um ano.

Um patinho feio é como eu me sinto, mas eu sei que eu posso voltar a ter uma vida saudável novamente. O meu problema de hoje, é que eu sempre acho que amanhã será o grande dia em que iniciarei a minha desintoxicação. Mas aos finais de semana eu deixo para depois de amanhã.






Nenhum comentário:

Postar um comentário