Paris é uma cidade apaixonante e com uma atmosfera
embriagantemente romântica, não é a toa que muitos casais escolhem a capital
francesa e seus arredores para uma viagem a dois.
Eu fui sozinha, felizmente.
E agora contarei uma história real com o maior clima de Once upon a time ou de roteiro de Woody
Allen. Tentarei passar com os detalhes a noite tão fascinante que protagonizei
lá, em Paris.
Não me considero uma das mais românticas princesas do reino
encantado, mas confesso que sonho com o príncipe vindo montado em seu cavalo
branco derretendo o feitiço que transformou meu coração em pedra.
Uma bela sexta-feira de dezembro, após passar o dia inteiro
pedalando e explorando a capital do vinho Rosé, tive o prazer de brindar a vida
estourando um original champanhe aos pés da Torre Eiffel iluminada em uma noite
estrelada de inverno.
Em minha companhia estavam uma Australiana e uma Texana, sem
taças em mãos dividimos as três uma garrafa e uma brincadeira.
Sentadas em um dos bancos em frente à torre, passávamos a
garrafa em sentido horário uma para outra. A cada gole que dávamos, a menina da
vez deveria contar um segredo sobre si que ninguém sabia e tão pouco saberia
depois dali.
Já embriagadas pela beleza da torre a meia noite, resolvemos
pegar o último metrô para o hostel que nos hospedava.
Chegando lá, a texana cansada foi dormir e eu e a australiana
fomos fazer um piquenique de Doritos com bolacha de chocolate nas mesas do
ambiente.
Minha colega Aussie,
carismática e amigável, em um ato benevolente, mas com intuito de conhecer
novas pessoas e fazer amizade, começou a andar pela área em comum do hostel
oferecendo bolachas de chocolate para quem estivesse por lá.
Após o surto de altruísmo da minha nova bff, as duas alteradas mentais foram jogar pebolim por volta das duas
da manhã.
Antes mesmo do final da minha primeira partida oficial de
totó da vida, representando o Brasil contra a Austrália, aproximaram-se três
robustos jogadores Italianos querendo um amistoso misturado entre todas as
seleções ali presentes.
Dividimos então os times, três jogadores contra dois, e
claro eu fiquei no time desfalcado.
Batalhamos até as mãos não aguentarem mais rodar os tacos.
Convidaram-nos então para sentarmos juntos ao restante de seus colegas para uma
boa prosa multicultural.
E ali demos muita risada, mandamos mensagens para minha
flatmate italiana, trocamos curiosidades sobre nossas culturas e foi uma noite
extremamente agradável.
Eram ao menos quatro rapazes e uma moça. Eu pude conversar a
vontade com quase todos, como sempre existem exceções, eu travava perto de um bello ragazzo.
Ele era dono de um par de olhos azuis esverdeados tão
cristalinos e brilhantes quanto o mar refletindo o céu das maldívias em suas
águas. E quando os seu olhar repousava sobre mim, ou ainda mais complicado, encontrava-se
com o meu, eu corava como um pêssego maduro.
Eu me sentia tão amedrontada como se ele estivesse me
despindo e pronto para descobrir todos os meus segredos. Então eu simplesmente
evitava, desviava, fugia para que as borboletas não chegassem a bater asas no
meu estômago.
Mais de quatro horas da manhã, quando voltava de uma das
minhas idas ao banheiro, parei no meio do caminho para conversar com um chinês
muito simpático, que a propósito mora no Canadá e estava dando um role pela
Europa. Ali resolvi ficar (ou me refugiar das flechas do cupido) agregando um
pouco mais de conhecimento de mundo à minha vida.
Já eram cinco quando avistei a seleção da azurra deixando o
campo de batalha. Como boa samaritana fui me despedir deles.
Um dos rapazes pediu meu Facebook como de praxe, para
mantermos contatos internacionais. Com um sorriso maroto em minha face, forneci
o código para o contato virtual e recolhi-me em meus aposentos.
Adormeci em meu andar térreo do beliche quase as seis da
manhã, mas eram oito e eu já estava de banho tomado devorando croissants com um
mapa em mãos delineando o novo trajeto daquele dia.
Programei em vão, tentei seguir o imaginado, mas eu estava
tão insuportavelmente mal-humorada de cansaço, que no meio da tarde resolvi
voltar para o hostel desmaiar.
Nesse tempo procurei meu príncipe encantado na página social
do Zuckerberg e claro com sucesso o adicionei e fui aceita.
Já deitada em minha cama real comecei a imaginar, alguns
podem ler profetizar, a bela noite romântica que eu gostaria de viver em Paris.
Ao entardecer depois de ter arrumado minha mala, pois
teria que partir de madrugada no dia seguinte, eu e Samantha fomos desvendar a
noite supostamente agitada da Praça da Bastilha, tivemos um bom jantar, porém
desta vez não aguentamos prolongar o passeio noturno voltando mais cedo do que
imaginávamos para o hostel.
Era sábado de noite e estávamos sentadas na área comunitária
conversando com um Irlandês. Eu estava achando o máximo a Samantha inglesa falante,
pedindo desculpas (sorry) no final de cada frase, pois ela não conseguia
entender claramente o sotaque irlandês do rapaz.
Não mais que de repente, sou surpreendia por uma mensagem no
celular dizendo: - hey, nós vamos abrir a última cerveja, gostaria de se juntar?
E em menos de dois minutos eu já estava aonde eu queria estar e ainda quase
flutuando de tantas borboletas que existiam e insistiam em borboletar dentro de
mim.
Conversávamos e gargalhávamos todos juntos, daquele jeito gesticulador
expansivo que só os italianos conseguem expressar, até que por uma força do
destino a cerveja acabou.
Nesse parágrafo do conto, o Woody Allen escreveu que o
Italiano sedutor me convidaria para comprar as cervejas junto com ele.
O mais engraçado de tudo, é que eu já havia previsto, ou
melhor, lido aquela página horas antes, à tarde em meu descanso. A partir daí
eu já sabia o roteiro de cor, inclusive o final do filme.
Saímos do hostel com a suposta missão de buscar cervejas. Para
isso, meu colega de compras deveria passar em um caixa eletrônico sacar
dinheiro. Desta maneira subimos até uma larga avenida nas proximidades.
Já era quase meia noite.
Esse bairro que estávamos hospedados fica na região do
Moulan Rouge que eu já visitara outra noite e também de uma igreja turística
famosa chamada de Sacré-Couer, essa eu ainda não havia conhecido e não tinha
certeza se conheceria, pois aquelas eram as minhas últimas horas na capital
francesa.
Tive a brilhante ideia de perguntar para meu colega onde
exatamente ficava e se ele já havia estado nessa igreja. Ele simplesmente
apontou para as frestas entre os prédios em nossa frente, podendo eu então
avistar a iluminada capela no alto do morro, e afirmou que já estivera no local
no dia anterior.
Mas eu queria ver mais de perto e comecei a andar em direção
ao morro da igreja, como em um conto de fadas começamos a correr juntos,
atravessando as ruas e as estreitas e íngremes vielas parisienses parando
somente quando não existiam mais obstáculos em minha vista.
Com uma voz doce, ofegante e manhosa completamente
persuasiva, pedi que postergássemos nossa missão alcoólica para que finalmente
eu pudesse conhecer o último ponto turístico da cidade que meus amigos haviam
me recomendado.
A igreja fica no alto de um morro, para ir até lá é preciso
subir milhares de lances de degraus ou pagar algumas moedas e usar o bonde.
Resolvemos ir de bonde, pois a corrida e o clima de romance
já haviam nos arrancado muito fôlego.
O tempo da subida no bondinho foi rápido, menos de dois
minutos eu acho, e bem no meio da subida existe um pub irlandês com direito as
cores laranja e verde e ainda o trevo da sorte. A propósito o pub estava lotado
e parecia bem animado.
Ao chegar ao alto do morro, desembarcando do bonde, minha
primeira visão foi para a bela Igreja iluminada.
Logo em seguida me deparei com Paris inteira também
iluminada.
Tímidas lagrimas escorreram pelas minhas bochechas, meu
coração parecia que iria explodir de tanto amor que pulsava no meu peito, ao
mesmo tempo que eu estava excitada em poder apreciar aquela vista magnífica em
uma noite estrelada com um clima agradável e ainda mais com uma boa companhia,
a paz tomou conta do meu corpo e me fez sentir dentro de uma bola de sabão
flutuando no espaço.
Eu só conseguia pensar em uma palavra. Gratidão.
Depois de criar um mapa mental em minha frente e ir
localizando cada ponto da cidade em que eu estivera nos dias anteriores meu
par, resolveu registrar aquele momento com uma selfie de nós dois e as luzes de
Paris ao fundo.
Bom, nesse momento nos aproximamos o suficiente para o
enquadramento da foto. De frente para a igreja, de costas para a cidade,
olhando para a lente do telefone.
E como quem já soubesse a próxima cena, permaneci em minha
pose até que ele deu um passo posicionando-se diante a mim e me beijou.
Depois dali o sorriso de orelha a orelha tomou conta do meu look.
Passamos no irish pub tomar uma Guinness, descemos as escadarias
de mãos dadas correndo. Fizemos o caminho de retorno para o hostel saltitando
iguais dois embriagados, dançávamos no meio da praça, girávamos, beijávamos exalávamos
paixão.
De volta ao hostel, passamos o restante da madrugada
conversando e trocando curiosidades distintas e em comum sobre nossas culturas.
Quando chegou cinco horas da manhã, fiz o check out no
hostel, peguei minha bagagem e ele me acompanhou até a estação de metro.
Os sorrisos haviam desaparecido assim como as palavras. Não conversamos
sobre a despedida e muito menos sobre reencontros. Não conversamos sobre nada. Como
se tivéssemos gastado toda nossa felicidade e alegria horas antes. O cansaço e
a tristeza tomava conta de nossos semblantes.
Assim como ele agradeceu a noite, eu também agradeci por ter
me levado até o alto da Sacre-Coeur, ter ficado a noite inteira comigo e ainda
me acompanhado ao metrô.
Despedi-me dizendo que ele estaria para sempre na minha
mente como o meu amor italiano platônico em Paris.
E o meu conforto e romantismo vem da sabedoria popular
brasileira que me ensinou que “Amor de praia não sobe serra” e que “todo
carnaval tem seu fim”.
Na pele eu descobri o motivo do filme meia-noite em Paris ter
ganhado tantas premiações no Oscar.
E segue aqui nesse link um pouco do dia mágico, gravado em snapchat, que descrevi aqui encima. :)
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