quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Paris

Eu nunca levei Paris tão a sério e jamais foi minha prioridade ir parar lá.

No meu imaginário era uma cidade grande, antiga, turística e clichê, aonde as pessoas iam mais para ter o carimbo Francês em seus passaportes e enaltecer o seu status social.

Eu também ouvira falar muito mal a respeito da capital francesa e seus habitantes. Que eles eram preconceituosos e nada receptivos e que era uma cidade caríssima e perigosa com grande número de estupros.

Recentemente aconteceram os atentados terroristas na cidade o que deixou a atmosfera parisiense pesada, triste e assustada. Em contrapartida as fronteiras ficaram muito mais restritas com minuciosas revistas a todos que entram e saem do país. E no centro da cidade onde estão as principais rotas turísticas também ganharam tropas militares para afugentar qualquer cidadão de bem ou de mal.

Um belo dia eu estava sem fazer nada em casa e avistei um email que continha promoções aéreas. Os destinos baratos eram vários, mas ali estava a tal Paris.

Existiam vários contrafluxos para me manter aconchegada e segura em minha zona de conforto na Irlanda. Mas com um impulso malandro, descontei 10 euros de minha conta bancária para viajar dali a cinco dias.

Nesse tempo contei para minha flatmate Italiana que por sua vez contou à sua mãe na Itália, elas me disseram que era muito perigoso ir para França aquele momento, e caso eu fosse deveria evitar multidões e metros.

Já meu flatmate espanhol que trabalha para o Google, disse que em sua firma eles haviam pedido aos funcionários que tinham viagens reservadas para esse mês pela Europa com ênfase na França e Bélgica, que postergassem as datas ou cancelassem as trips.

Meu amigo Irlandês disse que não era momento de ir à Paris, muito menos sozinha, que se ele pudesse iria comigo, e que a melhor opção seria não ir.

Minha mãe preferiu abster-se de qualquer comentário e disse que se por acaso eu fosse, ela não contaria para meu pai.

Comecei a pesquisar preços de hospedagem e transportes e percebi que a viagem não seria tão barata quanto eu gostaria. Desanimei e comecei a acreditar que o melhor seria perder só dez euros e continuar na minha zona quentinha confortável.

Um dia antes do voo, com um bicho carpinteiro me teimando, eu decidi arriscar e ir para a cidade Luz, assim na loucura, reservei o hostel, comprei o passe do ônibus do aeroporto até a cidade, comecei a estudar o mapa e trajetos, baixei aplicativos no celular e pedi indicações aos amigos que já estivaram lá sobre os passeios que valiam a pena fazer e pagar.

E vou contar uma coisa, nunca na minha vida tive uma decisão tão feliz.

Digo-lhes os motivos.

Eu estive em Paris do dia 2 de Dezembro ao dia 6 de Dezembro. Mas eu só tive realmente três dias e três noites completas para aproveitar, e foram três dias muito intensos, mas garanto que se fossem 15 dias, também seriam tão intenso quanto.

Não sou capaz de definir Paris com um único adjetivo.

Magnífica, esplêndida, robusta, encantadora, acolhedora, convidativa, iluminada, rica, excitante, apaixonante e por ai adiante.

Apesar de ser uma cidade gigante, é muito fácil se locomover por lá, bem sinalizada, só é preciso ter um pouquinho de senso de direção, ser destemido e aventureiro. Claro ter um mapa em mãos ajuda muito.

Há a opção de fazer os passeios mais tradicionais, mantendo-se nas rotas turísticas, comprando os ingressos para os museus e demais atrações on-line, com seu agente de viagem ou no próprio local de hospedagem, o que ajuda a evitar algumas filas.

Ou a minha opção, que foi explorar novos cantos de Paris, tão belos quanto os turísticos, e investir esse dinheiro em vinho Rosé e queijos tipicamente franceses, passando um tempo apreciando o clima em uma boa brasserie (café) de esquina.

As opções de locomoção por Paris são inúmeras, ônibus, metrô, trem, taxi, a pé ou o meu favorito, bicicleta.

Existe um passe único que se paga em média 12 euros e é válido para todo o dia, você pode andar em qualquer linha de trem, metrô ou ônibus quantas vezes quiser durante um dia inteiro.

Em minha opinião mais emocionante que isso e econômico, gastando 8 euros por uma semana inteira é o Vélib, que são bicicletas espalhadas pela cidade. Funciona igual ao Dublin Bike (para quem é ou conhece Dublin) você pega uma bike em uma estação e tem trinta minutos para pedalar até outra estação. Caso não tenha chego em seu destino final nesse tempo, não tem problemas. Com estações espalhadas pela cidade, basta trocar de bike em uma delas e continuar o percurso. Se passar dos trinta minutos é descontado uma pequena quantia de dinheiro do seu cartão de crédito (provavelmente um euro por mais trinta minutos).

Ou seja, fui aventureira o bastante para optar pela bicicleta como meio de transporte, destemida o suficiente em percorrer caminhos paralelos aos turísticos e com um senso de direção impar, que me fez perdida por inúmeras vezes, porém me levou a cantinhos surreais.

Além de o mapa ter sido meu melhor amigo nessa viagem by my own, quem jamais me deixou na mão foi minha amiga intuição. Com ela eu pude mergulhar no mar parisiense e flutuar na atmosfera mais apaixonante da minha vida.

E nessa humilde tentativa de viver na pele um pouquinho de cada cultura aqui nesse velho continente, sendo experimentando a comida típica, conhecendo lugares turísticos e rotineiros, ouvindo as histórias reais e os contos, a avaliação que faço dos povos por onde passei é que temos muito mais em comum do que imaginamos.

Sobre viajar sozinha? É a melhor e maior sensação de liberdade que alguém poderia ter.

Paris, você tem todo o meu respeito e admiração. A partir de hoje lhe recomendarei para todos os meus amigos de completo coração.

Merci et au revoir.






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