sábado, 28 de março de 2015

Energias Recarregadas

Eu estava super ansiosa para retornar ao Brasil.

Quando o avião pousou em solos brasileiros eu senti uma felicidade invadindo o meu corpo, talvez tenha sido o calor entrando em contato com a minha pele acostumada a temperaturas baixas, mas eu juro que queria beijar o chão do meu país.

Já ao chegar ao aeroporto de Foz do Iguaçu, eu não me contive, sai correndo com o carrinho das malas, abracei meus pais e chorei, chorei de soluçar.

Quando eu cheguei em casa, minhas meninas (cadelas) me pulavam felizes da vida, com mais os filhotes que eu ainda não conhecera, eles já ao contrário, quiseram me arrancar pedaços.

Mas estava tudo igual, no mesmo lugar de quando eu havia partido. A cozinha, o quarto, banheiro. E mesmo assim eu me senti uma total intrusa dentro da minha própria casa.

Demorei uns três dias para fazer o reconhecimento do lugar, me ambientar e ficar a vontade novamente.

Então no meu primeiro dia, já comi comida de mamãe que estava morrendo de vontade e me acabei chupando uva. (aquela uvinha tradicional do sul do país, não sei o nome certo dela).

A noite fui encontrar uma amiga e dessa vez matei a saudade de comer japonês. Depois encontrei outra amiga e fomos dançar na Argentina. Foi uma noite incrível. Sei que voltei pra casa somente no almoço de domingo.  E durante a tarde encontrei mais amigas queridas e colocamos as fofocas de um ano inteiro em dia.

Na minha primeira semana em foz, foi inteira dedicada à saúde. Fui ao dentista, nutricionista, médica, fiz mil exames e avaliações físicas. E para a completa alegria dei o ar das graças na piscina, sim voltei a nadar e também a musculação na academia.

Em um final de semana também consegui viajar para Concórdia em Santa Catarina para visitar uma das minhas avós e passamos dois dias incríveis juntas. Tomei chimarrão, comi frango com polenta e queijo colonial, pão com nata, pão de queijo e grostoli.

Faltou visitar a outra avó, mas essa mora em Caldas Novas – Goiás, que ficou totalmente fora de mão e de bolso para mim. Poxa é tão caro viajar pra lá.

Já na minha última semana em Foz, era uma quinta-feira, eu tinha um jantar na casa de uma amiga que mora no Country no Paraguai, eu já estava pronta para ir quando minha madrinha me ligou de São Paulo perguntando se eu não queria ir visita-la embarcando no voo das 6 da manhã do dia seguinte. Sem hesitar eu disse que iria.

Fui para o jantar no Paraguai com uma amiga e voltamos de lá uma da manhã. Cheguei em casa fiz minha malinha de viagem e fomos para o Zeppelin que é um Pub com música ao vivo em Foz.
A banda tocou músicas pop nacionais que fizeram parte da minha adolescência, então eu sabia quase todas as letras.  Logo eu cantei, pulei, me diverti até o final.

As cinco da manhã, parti então para o aeroporto. Subi no avião e só acordei em Guarulhos.
O incrível foi que uma super amiga minha que conheci aqui na Irlanda e que já voltou para a casa dela em São Paulo foi me buscar no aeroporto, e eu fiquei imensamente feliz e agradecida por vê-la.
Então partimos pegar ônibus e fazer baldeação de metro para chegarmos na Paulista, meu destino final.

Andamos a Paulista inteira, vimos as manifestações a favor e contra o PT, passeamos em shoppings e fofocamos muito. No final do dia, me despedi dela e fui esperar minha madrinha em seu apartamento para sairmos jantar e encontrar o restante da família.

Eu havia agendado salão em Foz no sábado para cortar os cabelos (um ano sem cortar) e fazer as unhas, claro antes de retornar para Europa. Mas estando em São Paulo tive que desmarcar, e segunda-feira os salões não abrem em Foz. E terça eu já embarcaria para Irlanda.

Então minha madrinha fez mágica e conseguiu horário em um salão perto da casa dela. Agora meus cabelos estão curtos novamente.

Naquele sábado a noite fui ao aniversário na minha amiga (considero prima) e por volta das dez da noite o táxi me apanhou para me levar a Guarulhos, pois meu voo para Foz era o da meia noite. Preferi voltar antes dos protestos que ocorreriam no domingo do dia 15 de março.

Desembarquei em Foz uma e meia da manhã, e uma amiga com mais outras meninas foram me buscar no aeroporto, e dessa vez seguimos em direção à Argentina para conhecer uma nova balada eletrônica de Puerto Iguazu.

Realmente foi um final de semana de tirar o folego, com Paraguai, Foz, São Paulo e Argentina em menos de quatro dias, mas que super valeu a pena.

Tive o domingo para ficar com meus pais e também para comprar produtos de higiene e meias que eu queria trazer para Irlanda.

Na segunda-feira nadei pela última vez, fiz uma avaliação física na academia e ganhei estrelinha do professor. Rolei com minhas cachorras no chão, comi mais algumas uvas e açaí.

Na terça-feira de manhã arrumei minha mala correndo, tive meu último almoço feito pela mamãe, conversei por telefone com as avós e tias e fui para o aeroporto.

E mesmo com a semana corrida sem tempo para negatividade, e eu me sentindo uma Fernanda mais zen e calma, teve um dia que meu pai conseguiu me tirar do sério e que acabei me descontrolando.

Meu pai não é uma pessoa fácil de lidar, e eu sei que ele não vai mudar, eu é que tenho que me adaptar ao jeito dele de pensar e agir. Mas em fim, na última semana ele não falava comigo, era frio, e até nos últimos momentos antes de embarcar ele não deu o braço a torcer. E isso me deixou sentida, triste. Não com ele, mas comigo mesma. Poxa vim aqui para o outro lado do mundo, eu disse a ele que o amava e ele não me retornou uma palavra se quer. Em fim, PAI, se por acaso o senhor ler isso aqui, me desculpe e saiba que eu te amo muito.

Foi indescritivelmente mais difícil entrar no avião dessa vez.

Meu coração, pensamento e alma estão no Brasil.

Vim cumprir minha meta. E assim que atingir meu objetivo, mãe, eu volto pra casa outra vez.






2º Round

Hoje, nesse sábado com clima tipicamente dublinio ou curitibano como preferirem, sol, calor, frio e chuva em uma simples manhã, estou eu aqui na capital irlandesa pela segunda vez.

Começou o segundo round e ele está tão surpreendentemente difícil quanto o primeiro.
Para começo de conversa, a dificuldade começou uma semana antes de embarcar. Eu simplesmente não queria mais vir.

Eu vivi tão intensamente os meus vinte dias de Brasil, dei tanto valor aos rápidos segundos do dia, que quando eu acordei, eu estava me derramando em lágrimas no ombro da minha mãe no aeroporto em Foz, me despedindo por mais não sei quanto tempo.

Confesso que quando eu estava em Foz, eu ainda não tinha a escola comprada, nem a passagem aérea de Amsterdã para Dublin, nem lugar para morar, nem nada. Eu teria ficado no Brasil se fosse necessário, inevitável ou se fosse amor.

Em fim, a viagem foi cansativa, mas deu tudo certo.

Cheguei em Dublin sem lugar fixo para morar. Fui dormir na sala de uma antiga casa que morei.

Comecei a procurar um lar por grupos de brasileiros no facebook e por sites específicos de vagas em Dublin. Mas a oferta de moradia aqui está pequena para a demanda de pessoas procurando um cantinho para viver. Então visitei umas dez casas até ser a escolhida em uma delas.

Hoje divido um pequeníssimo apartamento em Dublin 1 com mais três rapazes.

Bom, quem me conhece sabe que sou uma menina organizada, que a mãe domou para jamais deixar um copo escorrendo na pia da cozinha. Que arrumava a cama todos os dias, as roupas organizadas no guarda-roupa por ordem de ocasião e mania de limpeza.

Bem, todos os meus TOCs (transtorno obsessivo compulsivo) estão sendo adormecidos.

Só tenho uma coisa a dizer. Não é fácil.

Mas os meninos são bem queridos e gente boa.

Mas o que tem me quebrado também é o preço do aluguel, antigamente eu pagava 150 euros por mês, agora aqui o aluguel é de 270 euros. Ou seja, tenho que economizar na alimentação para equilibrar as contas.

Aqui eu tenho comido basicamente atum, quinoa, ovo, salada de alface ou repolho, banana, maça e laranja.

E todo o cardápio bonito da nutricionista do Brasil ficou no Brasil, pelo menos estou ao máximo conseguindo ficar sem glúten e lactose. Já que feito os exames deu intolerância.

A academia está sendo um problema, pois como ainda tenho esperança de achar outra casa para morar, ainda não me matriculei em nenhuma, ou seja, meu professor da academia no Brasil está louco da vida comigo que ainda não voltei a treinar para dar continuidade a nossa programação.

Minhas aulas ainda não começaram. Preciso também ir até a imigração fazer meu visto. Só estou esperando a minha carta de attendance e o meu seguro saúde ficarem prontos.

Preciso arrumar um emprego, mas como o mundo todo sabe quem tem indicação para pleitear um trabalho sempre ganha pontos positivos ficando à frente de todos os concorrentes. Então, cheguei a conclusão que preciso sair, conhecer pessoas e fazer um Networking bacana para ajudar a conquistar um Job.

Eu só não sei o porquê eu não me contentei em ficar quietinha em Foz do Iguaçu, com um quarto só pra mim, um carro, o calor maravilhoso, uma estabilidade emocional, financeira e até mesmo física, e claro o amor e carinhos dos meus pais e amigos.

E eu também não sei o porquê, mas tenho a sensação de que esse ano será inesquecível, mesmo com dificuldades e perrengues, saudades e solidão.